Christo nihil praeponere. A nada dar mais valor que a Cristo. A nada dar mais valor que ao seu amor, exatamente porque Cristo a nada deu mais valor que a nós.
View the Project on GitHub araguaci/Christo-nihil-praeponere
O site padrepauloricardo.org traz a seguinte epígrafe: “Christo nihil praeponere - a nada dar mais valor que a Cristo” e muitos perguntam o que ela, de fato, significa e de onde foi extraída. A expressão foi encontrada pela primeira vez nos escritos de São Cipriano de Cartago (texto abaixo). Um século depois ela foi retomada por Santo Agostinho no seu “Comentário aos Salmos” e, finalmente, por São Bento que a cita duas vezes em sua “Regra”. Por causa disso, ganhou notoriedade e ficou conhecida como um moto beneditino, apesar de ser bem mais antiga.
A expressão tem como sentido profundo um chamado à vida de santidade. Ela foi colocada no frontispício do site exatamente para incutir a necessidade de se atender a esse chamado. “A segunda decolagem”, “Esforçai-vos para entrar pela porta estreita” são alguns dos vídeos do site que possuem a mesma dinâmica: não basta seguir os mandamentos da lei de Deus e viver como cristãos de “salário-mínimo”, necessário mesmo é o Amor. Nada colocar antes do amor que se deve ter a Cristo. Esta é a prioridade.
Da mesma maneira que na época de São Cipriano, ainda hoje a Igreja sofre perseguições. Naquela época, comum era a perseguição cruenta. Atualmente, esse tipo de ataque ainda existe em vários países, mas o que se vê aqui no Brasil é uma perseguição ideológica que, embora produza injustiças e sofrimentos ela é, geralmente, incruenta. Contudo, da mesma forma que na época de São Cripriano, todos são chamados ao martírio. Urge tomar uma posição.
Orígenes, já no século III, dizia que “diante de uma tentação, um cristão sai mártir ou idólatra”. Todos os dias os homens são confrontados pela tentação demoníaca que oferece um caminho mais fácil, mais prazeroso. E todos os dias eles se dobram e adoram a criatura no lugar do Criador, procurando a felicidade onde ela não se encontra: no dinheiro, na bebida, no sexo, na fama e em tantas outras coisas. Rejeitar essas criaturas que se arrogam no direito de tomar o lugar de Deus implica numa espécie de morte, num martírio.
Preferir Deus no lugar de outras coisas é que o mártir faz. Um mártir se vê com uma arma apontada para a cabeça e alguém lhe ordena: negue a Jesus, pise na hóstia consagrada, cuspa no crucifixo. Ele pensa então em sua família, seus filhos, seus parentes, seus bens, seu emprego, sua vida, toda a sua existência aqui na Terra e o quanto ama tudo isso, e diz: “Não! Eu prefiro Cristo. Não vou negar aquele que morreu por mim. Não vou maltratar aquele que me amou tanto.” E morre. Um mártir é aquele que preferiu a Cristo.
Interessante notar que nos escritos de São Cipriano a justificativa para isso tudo é justamente o fato de que Cristo preferiu os homens primeiro. “Pois Ele, por nossa causa, preferiu os males no lugar dos bens, a pobreza no lugar da riqueza, a escravidão no lugar so senhorio, a morte no lugar da imortalidade. De nossa parte, em meio às nossas tribulações, prefiramos as riquezas e as delícias do paraíso à pobreza humana, o senhorio do reino eterno à escravidão temporal, a imortalidade à morte.” O santo mostra com toda clareza que quando Cristo é preferido, na verdade, trata-se de um investimento.
Na expressão Christo nihil praeponere encontra-se o mesmo que nas parábolas do Reino, no Evangelho de São Mateus, capítulo 13, ou seja, que o Reino dos céus é como um tesouro escondido, você vai e vende tudo para adquirir aquele tesouro. Por que, então, existe uma enorme dificuldade em se preferir a Cristo? Por que a dificuldade em abraçar tudo e abraçar o tesouro? É porque ele está escondido.
Para enxergar o tesouro escondido é preciso fé. Se Deus se revelasse com toda clareza, o homem não teria o que escolher. Seria como ter que escolher entre uma montanha de ouro e um cesto de esterco. Pois bem, Deus é a montanha de ouro e as criaturas, comparadas a Ele, são os cestos. O que então preferir? Cristo, Deus, colocá-Lo em seu lugar. Trata-se de um exercício de fé: espelhar-se na fé dos mártires.
Por fim, um detalhe quanto à pronúncia da expressão Christo nihil praeponere. O Papa São Pio X decretou que Roma é a sede do rito latino, por isso, a pronúncia do latim deve ser a mesma de Roma. Sendo assim, na palavra “Christo”, deve se pronunciar o “o” e não substituí-lo por um “u”, como se faz em português. A palavra “nihil” deve ser pronunciada como se o “h” não existisse, ou seja, “niil”. Finalmente, em “praeponere” lembrar que “ae” pronuncia-se “e”, ou seja, “preponere”.
Christo nihil praeponere. A nada dar mais valor que a Cristo. A nada dar mais valor que ao seu amor, exatamente porque Cristo a nada deu mais valor que a nós.
Padre Paulo Ricardo Fonte Original